terça-feira, 15 de novembro de 2011

Chico Buarque - Meu Guri



Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar

"Seu moço" está como vocativo. Vemos que alguém está falando com esse "seu moço". 
Falando para o moço que nasceu o filho, mas não no momento de nascer.
Não tinha nada para dar pro filho = se trata de uma mãe - ou um pai - humilde. Nem nome tinha... humilde e analfabeta, sem condições para criar um filho.

Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Não tinha nada pra dar pro filho, nem mesmo nome, como vimos anteriormente, mas o filho, desde pequeno, falava que "chegava lá": que ganharia na vida, conseguiria superar. Ficando claro que desde pequeno o garoto pensava em riquezas, não aceitava sua situação.
 


Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
"Olha aí!" expressa o orgulho. O filho está trabalhando, pois chega suado do batente. Que orgulho, "olha aí! o meu filho conseguiu! está trabalhando..." Se orgulha tanto do filho, pois este está conseguindo comprar tantas coisas, tantos presentes... vemos que o eu-lírico desta música é uma mulher, antes poderia ser um homem ou uma mulher, o pai ou a mãe, mas agora está claro que é a mãe que se sente orgulhososa do filho, pela estrofe da bolsa. 
Aqui também vemos a inocência da moça, que pensa que o filho comprou a bolsa  e tudo que estava dentro... mas na verdade, sabemos que é roubada, pois tem até documentos. O que nem ela mesmo tinha, e na inocência de uma moça humilde, ela poderia aceitar uma bolsa com um nome, com uma agenda, um cartão e um nome, para poder ter uma identidade, o que nunca teve. E percebemos que o "veloz e suado" já é um indício de que ele chega mesmo é fugindo dos assaltos que cometeu.

Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
 Temos a certeza de que se trata de uma família pobre, eles moram no morro, inclusive ela fala que no morro está acontecendo vários assaltos - e ela nem desconfia de que seja o filho dela um dos assaltantes. Mesmo ele voltando sempre com muitas coisas... para ela, ele está trabalhando, conseguindo pela honestidade.

Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...

Mais uma vez, ela se orgulha do filho. Se orgulha pois ele, agora, aparece no jornal. Estampado, com legenda...  Morto. Não diz se por policiais ou traficantes rivais. Mas o que importa é que é uma notícia sobre o assassinato de um traficante, mas a mulher, na sua ingenuidade, ainda assim acredita que ele está feliz, mesmo com os olhos vendados - pois, como é menor de idade, não poderia aparecer o rosto do garoto - e, só devido a posição do filho, expressão facial, que parece estar sorrindo... a mãe ainda acredita que ele está feliz. Percebemos também que agora no final esse "seu moço" com quem a mãe fala, pode ser um policial que trouxe a notícia.
Se a mãe sabia ou não, desconfiava ou não, do filho, não fica claro. Alguns dizem que ela se orgulha no final, mesmo com o filho morto, pois "um dia ele chegaria lá" e ele realmente chegou. Outros acreditam - e eu também sou mais chegada nessa interpretação - que a mãe só pensou que o filho estava contente, devido a foto, mesmo, que parecia que ele estava sorrindo, quando na verdade ele poderia ter estado sob efeito de alguma droga, uma vez que tem drogas que deixam a expressão facial de tal maneira etc.  

2 comentários:

  1. Perfect *-* Isso me ajudou muito!!
    heloysadias.blogspot.com

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  2. Outra coisa que podemos identificar na música é que ela se passa no Sul do Brasil, uma vez que é lá que se usa a expressão "guri" pra se referir a garoto

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